A Internet e as eleições
*Benito ParetVivemos um momento muito especial na vida política da nação, com profunda descrença com representação parlamentar.
O aprofundamento do processo democrático exige, cada vez mais, transparência da parte de candidatos e partidos, e maior acesso dos cidadãos aos programas e ideias dos que se oferecem para representá-los. E, nesse particular, as entidades da sociedade civil têm importante contribuição a dar no processo eleitoral que se aproxima, patrocinando, como entes politicamente neutros, ampla discussão sobre os problemas brasileiros, promovendo efetiva aproximação entre eleitores e candidatos.
A promoção de debates públicos fica restrita aos que pleiteiam os cargos majoritários e a escolha dos proporcionais – deputados estaduais e federais – fica fora do alcance destas iniciativas. Poucas semanas após o pleito muitos eleitores já esqueceram até o nome dos “escolhidos”. A mudança para o uso de critérios e compromissos claros é um obstáculo que precisa ser transposto, para regatar a credibilidade nas instituições democráticas.
Apesar de ter, ainda, consideráveis limitações a contornar, principalmente quanto ao acesso pelas camadas sociais de menor poder aquisitivo, a Internet vem se firmando, em todo mundo, como ferramenta capaz de estreitar a distância entre representantes e representados, com inegáveis vantagens. Entre elas a interatividade, nos fóruns de discussão, que permitam ao eleitor sugerir, perguntar e cobrar posições de candidatos, conhecendo claramente as biografias e opiniões dos postulantes. É uma escolha consciente.
Em todo o mundo desenvolvido multiplicam-se esses fóruns, pela rede, reunindo candidatos e eleitores em debates produtivos. Fora conhecidos exemplos de gestão participativa, em alguns países – como a Inglaterra, Estados Unidos e Suíça , em maio último, o Congresso espanhol aprovou lei que autoriza a coleta de assinaturas pela Internet para promover mudanças legislativas por via eletrônica. São sinais dos novos tempos.
Em janeiro já eram mais de 5 milhões de pessoas conectadas à rede, no Brasil, através de quase 900 mil domínios registrados. Mas a participação de partidos e candidatos ainda se limita, na maioria das vezes, à construção de páginas na rede. Ou ao envio de e-mails não solicitados que entopem as caixas postais dos cidadãos, produzindo efeito contrário.
Já é tempo das entidades da sociedade civil se utilizarem dos recursos que a tecnologia oferece e dos responsáveis pelas campanhas políticas perceberem a importância crescente da Internet nas eleições. De entenderem que pode nascer um eleitor mais exigente e comprometido, que reivindica respostas efetivas e maior transparência dos escolhidos. Já é hora de colocar a Internet a serviço da uma efetiva construção democrática, instrumento dos novos tempos que tanto reivindicamos.
*Benito Paret é presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Rio de Janeiro. (Publicado no jornal “O Globo” caderno Opinião de 10/07/2006)
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